Uso da Inteligência Artificial na saúde: Exemplo aplicado ao Câncer de Mama
A Inteligência Artificial (IA) tem sido alvo de estudos em diversas áreas e seu uso na área de saúde vem crescendo exponencialmente. O desenvolvimento de sistemas que auxiliem em uma conduta clínica mais assertiva é cada vez mais estudado em diversas frentes.
A capacidade de uma tecnologia receber informações, ponderá-las e tomar decisões a partir dessas informações, pode ser muito relevante em diversos aspectos, inclusive na predição à resposta à diferentes tratamentos de saúde. Sistemas de IA podem atualmente receber e interpretar informações clínico-patológicas sobre os pacientes e, assim, identificar possíveis desfechos baseados em casos de exemplos passados, como um aprendizado sobre o assunto.
A padronização de um modelo de predição baseado em IA para pacientes com diferentes doenças pode auxiliar na conduta clínica de maneira personalizada e mais assertiva. Em nosso estudo objetivou-se aplicar modelos de IA para predizer a resposta à QTNA baseado somente em dados clinico-patológicos.
Com relação ao câncer de mama, por exemplo, especificamente, observa-se, atualmente, estudos focados na interpretação de exames de imagem. Entretanto, quando se trata de quimiorresistência e quimiossensibilidade, há pouquíssimos dados publicados, sendo que, até o momento, não existem trabalhos que demonstrem uma predição com base exclusivamente em dados clínico-patológicos. Por isso, destaca-se a inovação do presente estudo e sua relevância científica.
A IA tem como princípio básico a formação de modelos cognitivos que tenham capacidade de interpretação de dados e previsão dos mesmos. A interpretação das informações ocorre a partir do conhecimento adquirido. Na concepção da ciência da IA, “conhecimento” representa dados. Para a simulação de modelos cognitivos desenvolve-se uma rede neural artificial (RNAs), a qual simula um neurônio biológico. Em um neurônio humano há regiões específicas, dentre elas: dendritos, especializados em recepção de impulsos nervosos; e corpo celular, um local de processamento de informações e terminações nervosas, responsáveis pela saída do impulso nervoso.
Uma RNA apresenta regiões muito semelhantes. Os dendritos neurais são representados pela letra “w” na figura abaixo, na qual destaca-se a existência de mais de um prolongamento neural. Ou seja, mais informações recebidas, sendo cada uma com pesos diferentes e determinantes para uma boa interpretação de dados. O corpo celular é interpretado pelas letras “fa” na figura abaixo. Neste local da RNA ocorre a combinação pelo meio de função matemática dos dados obtidos em “w” e, por fim, as terminações nervosas, nas quais ocorre comunicação entre as RNA’s, simulando uma sinapse neural.
Fonte: Adaptado de Faceli et al. (2011).
Quando se investigou o uso específico de RNA, com seu modelo de aprendizado e suas relações com o câncer de mama, evidenciou-se alguns estudos focados em predição do risco de câncer de mama e sua progressão. Porém, até o momento, não há trabalhos que utilizem dados clínico-patológicos na predição da resposta quimioterápica em pacientes com câncer de mama, mais uma vez destacando a importância do presente trabalho para o aprimoramento científico na área.
Considerado a habilidade de adaptação, capacidade de aprendizado por meio de exemplos, organização de dados e reconhecimento de padrões, as RNAs podem ser consideradas como modelos computacionais e tornam-se uma interessante ferramenta para predição de resposta quimioterápica, recidiva locorregional, progressão sistêmica da doença e sobrevida no caso do câncer de mama.
Referências bibliográficas
Sancho-Garnier, H. and M. Colonna, [Breast cancer epidemiology]. Presse Med, 2019. 48(10): p. 1076-1084.
Ahmed, S.H., Safety of neoadjuvant chemotherapy for the treatment of breast cancer. Expert Opin Drug Saf, 2019. 18(9): p. 817-827.
Li, X., et al., Predictive and Prognostic Roles of Pathological Indicators for Patients with Breast Cancer on Neoadjuvant Chemotherapy. J Breast Cancer, 2019. 22(4): p. 497-521.
Sparano, J.A., et al., Clinical and Genomic Risk to Guide the Use of Adjuvant Therapy for Breast Cancer. N Engl J Med, 2019. 380(25): p. 2395-2405.
Audeh, W., et al., Prospective Validation of a Genomic Assay in Breast Cancer: The 70-gene MammaPrint Assay and the MINDACT Trial. Acta Med Acad, 2019. 48(1): p. 18-34.
Carter, S.M., et al., The ethical, legal and social implications of using artificial intelligence systems in breast cancer care. Breast, 2020. 49: p. 25-32.
Ibrahim, A., et al., Artificial intelligence in digital breast pathology: Techniques and applications. Breast, 2020. 49: p. 267-273.
Lee, C.I., et al., Pathways to breast cancer screening artificial intelligence algorithm validation. Breast, 2020. 52: p. 146-149.
CARVALHO, A., et al., Inteligência Artificial–uma abordagem de aprendizado de máquina. Rio de Janeiro: LTC, 2011.
Díaz-Casas, S.E., et al., Pathological Response to Neoadjuvant Chemotherapy and the Molecular Classification of Locally Advanced Breast Cancer in a Latin American Cohort. Oncologist, 2019. 24(12): p. e1360-e1370.
Asaoka, M., et al., Clinical and pathological predictors of recurrence in breast cancer patients achieving pathological complete response to neoadjuvant chemotherapy. Eur J Surg Oncol, 2019. 45(12): p. 2289-2294.
Del Prete, S., et al., Clinical and pathological factors predictive of response to neoadjuvant chemotherapy in breast cancer: A single center experience. Oncol Lett, 2019. 18(4): p. 3873-3879.
Mamounas, E.P., et al., Predictors of locoregional recurrence after neoadjuvant chemotherapy: results from combined analysis of National Surgical Adjuvant Breast and Bowel Project B-18 and B-27. J Clin Oncol, 2012. 30(32): p. 3960-6.
Gillon, P., et al., Factors predictive of locoregional recurrence following neoadjuvant chemotherapy in patients with large operable or locally advanced breast cancer: An analysis of the EORTC 10994/BIG 1-00 study. Eur J Cancer, 2017. 79: p. 226-234.
Li, Y., et al., Incidence, risk factors and survival of patients with brain metastases at initial metastatic breast cancer diagnosis in China. Breast, 2020. 55: p. 30-36.
Howlader, N., et al., SEER cancer statistics review. National Cancer Institute, 1975. 2008.
Park, K., et al., Robust predictive model for evaluating breast cancer survivability. Engineering Applications of Artificial Intelligence, 2013. 26(9): p. 2194-2205.
Le, E.P.V., et al., Artificial intelligence in breast imaging. Clin Radiol, 2019. 74(5): p. 357-366.
Wu, G.G., et al., Artificial intelligence in breast ultrasound. World J Radiol, 2019. 11(2): p. 19-26.
Rodríguez-Ruiz, A., et al., Detection of Breast Cancer with Mammography: Effect of an Artificial Intelligence Support System. Radiology, 2019. 290(2): p. 305-314.
Yin, X.X., et al., Artificial Intellegence in Breast MRI Radiogenomics: Towards Accurate Prediction of Neoadjuvant Chemotherapy Responses. Curr Med Imaging, 2020. 25(10): p. 1573405616666200825161921.
Ayer, T., et al., Breast cancer risk estimation with artificial neural networks revisited: discrimination and calibration. Cancer, 2010. 116(14): p. 3310-21.
Dihge, L., et al., Artificial neural network models to predict nodal status in clinically node-negative breast cancer. BMC Cancer, 2019. 19(1): p. 019-5827.
Sepandi, M., et al., Assessing Breast Cancer Risk with an Artificial Neural Network. Asian Pac J Cancer Prev, 2018. 19(4): p. 1017-1019.
Zhang, Z., et al., Morphology-based prediction of cancer cell migration using an artificial neural network and a random decision forest. Integr Biol, 2018. 10(12): p. 758-767.
Motalleb, G., Artificial neural network analysis in preclinical breast cancer. Cell J, 2014. 15(4): p. 324-31.